Saturday, June 18, 2016

Laxmanrao Sardessai: "18 de Junho"


The 18th of June is Goa Revolution Day, which has been celebrated since 1980. It marks the day in 1946 that the movement for independence from Portugal came into its own. Public meetings, such as the one addressed by Ram Manohar Lohia and Julião Menezes on 18 June 1946, were illegal under colonial rule, and therefore suppressed. For the next 15 years the Portuguese authorities faced a rising tide of resistance to their rule, in forms ranging from peaceful satyagraha and the formation of anti-colonial political parties to direct action carried out by the Azad Gomantak Dal. In December 1961, the Indian military finished what others had started and launched Operation Vijay, which swept into Goa and, in three days, put an end to 450 years of Portuguese rule. Goa was annexed to India, along with Damão and Diu, the even smaller remnants of the Portuguese Estado da Índia.

The Goan writer Laxmanrao Sardessai was jailed twice by the Portuguese for his involvement in the Goan independence movement. In the early 1960s, the newly-minted union territory of Goa faced the prospect of being merged into the neighboring state of Maharashtra, which Sardessai vehemently opposed and agitated against. While the following poem commemorates the historic actions of 1946, it was published during the period in which Sardessai wrote poems in Portuguese (as opposed to short stories in Marathi, which made up the overwhelming bulk of his literary output) as part of his campaign against merger. These poems were published in the Portuguese-language newspapers A Vida and O Heraldo, the latter of which continues today, having switched to publishing in English in 1983.

Enjoy, folks, and here's to the continuing struggle against colonialism in all its forms!

D.A.S.



"18 de Junho"
Laxmanrao Sardessai
publicado no jornal A Vida, 18 Junho 1966


Porque será, ó 18 de Junho,
Que estás tão desolado?
Será porque vês
Extinguir-se, lentamente,
A chama que te animara
Há vinte anos
E o sonho que teus sequazes
Sonharam
Duma Goa livre e bela?
Será porque tanto sangue
Que teus heróis verteram,
Foi em vão
E só lhes trouxe
Miséria e lágrimas
E nova escravidão?
Será porque medrou nesta terra
O mal e esvaiu-se o bem
E os vermes tripudiam
Sobre a carcassa?
E estertores retumbam
Nos lares?
E terroriza a queda
Dos valores morais?
Será porque corações inocentes
Choram a maldade dos potentados?
Será porque os ídolos de barro
Sorriem para escárneo
Dos bons e pacatos
E os criminosos se arvoram em juizes
E os justos se tornam cobardes?
Não chores, não, ó 18 de Junho,
Tu inspiraste um povo inteiro
A sofrer e morrer
Por um ideal!
Do teu seio sairá, em breve,
Outro 18, belo e radiante,
Que verá teus sonhos
Tomar vulto e brilhar
Como minaretes dourados
Nos céus azuis desta terra,
Hoje calcada,
Ó dia glorioso
Somos teus filhos.
Filhos de Revolução
E tu és nosso pai
Pai de heróis,
Que sabem sofrer por um ideal.


***


"18th of June"
Laxmanrao Sardessai
Published in the newspaper A Vida, 18 June 1966


Why is it, oh 18th of June,
That you are so forlorn?
Is it because you see
The flame that animated you
Twenty years ago
Being slowly extinguished
Along with the dream that your followers
Dreamed
Of a Goa free and beautiful?
Is it because so much of the blood
Your heroes shed
Was in vain
And only brought them
Misery and tears
And a new slavery?
Is it because evil has thrived in this land
And good has evaporated
And the worms rejoice
Over its carcass?
And death-rattles resound
In the homes?
And the decay of moral values
Terrifies you?
Is it because innocent hearts
Weep at the wickedness of the rulers?
Is it because clay idols
Smile in mockery
Of the good and peaceful
And criminals pretend to be judges
And the just become cowards?
No, do not weep, oh 18th of June,
You inspired an entire people
To suffer and die
For an ideal!
From your breast will soon come
Another 18th, beautiful and radiant,
That will see your dreams
Take shape and shine
Like golden minarets
In the blue skies of this land,
Today downtrodden
Oh glorious day
We are your children.
Children of the Revolution
And you are our father
Father of heroes,
Who know how to suffer for an ideal.

Friday, June 10, 2016

Feliz Dia de Portugal, de Camões, e das Comunidades Portuguesas!/Tradução do poema "Só Gosto" de Vimala Devi

Aqui no Texas o Dia de Portugal, de Camões, e das Comunidades Portuguesas está quase no fim. Por isso, ofereço-lhes uma tradução de um poema da escritora portuguesa Vimala Devi (o pseudónimo de Teresa da Piedade de Baptista Almeida), que nasceu em Goa e escreveu com Manuel de Seabra a obra-prima dos estudos da língua portuguesa no antigo Índia Portuguesa: A Literatura Indo-Portuguesa. Posso dizer que ela era uma das vozes mais fortes da literatura goesa na segunda metade do século XX. Agora ela vive em Espanha, onde escreve em espanhol, catalão, e esperanto.

Nunca traduzi um poema tão curto. É, num sentido, mais difícil do que um verso mais longo.

Adeus, amigos!
D.A.S.

***

"Só Gosto"
Vimala Devi


Do Céu, com estrelas.
Da Terra, sem gente.

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"I Only Like"
Vimala Devi


The sky with stars.
The earth without people.


Wednesday, June 08, 2016

Camilo Pessanha: "Floriram por engano as rosas bravas"

Apresento-lhes mais um poema daquele homem entre mundos, Camilo Pessanha. Geralmente dizemos que uma pessoa está entre dois mundos, mas no caso de Pessanha temos um homem entre um conjunto de muitos mundos contrários: os do Ocidente e do Oriente, do metrópole e da colônia, dos deveres do funcionário público e do estetismo, do exílio e do integração. Obviamente, esta série de díades não basta para esboçar um retrato completo de Pessanha (ou, na verdade, qualquer pessoa, coisa, ou ideia, porque não vivemos num mundo binário).

Este poema é, espantosamente, um que nunca li até há poucos dias. Pensei que tinha lido todos os poemas de Clepsidra, mas estava enganado. A ortografia é moderna, mas a pontuação da versão portuguesa está em acordo com a versão de 1920 de Edições Lusitânia (que não usa o circunflexo no seu nome!). Como de costume, não ha título próprio, e por isso uso a primeira linha do poema.

Agora, na cúspide do verão, pode-se dizer que um poema sobre a neve do inverno não faz sentido, mas que poderia fazer? Espero que vocês gostem do poema e a sua tradução para inglês. Vou escritar mais em breve, porque o dia de Portugal, de Camões, e das Comunidades Portuguesas (10 de Junho) está a chegar!

Obrigado e adeus, caros leitores!

Abraços,
D.A.S.

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I give you another translation of a poem by that man between worlds, Camilo Pessanha. We usually speak of a person being between two worlds, but in Pessanha's case we have a man between a set of conflicting worlds: East and West, homeland and colony, the duties of the public servant and and aestheticism, exile and integration. Obviously this series of dyads doesn't suffice to sketch a full picture of Pessanha (or, really, any given person, thing, or idea, because the world isn't binary).

Surprisingly, I hadn't read this poem until a few days ago. I thought I'd read every poem in Clepsidra, but I was mistaken. The spelling is updated, though the punctuation remains true to that found in the 1920 Edições Lusitânia (which on the book's title page doesn't use the circumflex!) version. As usual, the poem doesn't have a proper title, so I've used the first line instead.

Now that we're on the cusp of summer, a poem about the snows of winter might not make sense, but what can you do? I hope y'all enjoy the poem (in both of its forms), and I'll be writing again soon, as Portugal Day is coming up on the 10th.

Thanks for reading, and take it easy, folks.

Yours,
D.A.S.

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"Floriram por engano as rosas bravas"
Camilo Pessanha


Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze — quanta flor — do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

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"By mistake the wild roses bloomed"
Camilo Pessanha

By mistake the wild roses bloomed
In winter: the wind came and stripped away their leaves...
What are you pondering, my darling? Why do you silence
The voices with which you fooled me just now?

Lunatic castles! How soon you fell!
Where are we going, lost in thought,
Hand in hand? Your eyes, which for a moment
Looked deeply into mine, how sad they are!

And over us the snow falls, bridal,
Deaf, triumphant, petals lightly
Covering the floor in the acropolis of ice...

It is like a veil over your face!
Who scattered them — so many flowers — from the sky,
Over the two of us, over our hair?