Tuesday, August 23, 2016

Tesouros deixados nos livros

Há uns dias, recebi o primeiro volume do que espero seja uma obra-prima, nomeadamente "A Ditadura Envergonhada" de Elio Gaspari. O livro (e os seus quatros volumes acompanhantes) conta a história da ditudura militar no Brasil entre 1964-1985, um assunto do que não sei nada. Que sorte que tenho milhares de páginas para ler.

Mas não estou aqui a fim de falar da ditadura, ou do trabalho de Gaspari. Preferiria fazer uma breve menção das coisas, além do texto, que se pode encontrar dentro de um livro. No caso de "A Ditadura Envergonhada", há uma dedicatória, de uma Senhora C. ao Senhor G. (Não vou escrever os seus nomes completos, porque o livro foi um presente, e quando um presente afasta-se para o sertão do mercado, sempre existe a possibilidade bem incómoda do doador o descobrindo.) Também achei um marcador das páginas, feito de um pedaço de cartão com as palavras "Pharmacia & Upjohn"- antiga fusão das empresas Pharmacia e Upjohn, hoje em dia parte de Pfizer- impresso nela.

Quando leio dedicatórias em livros em segunda mão, sempre tento de imaginar as circunstâncias em que foram escritas. Foi o livro um presente bem escolhido, ou uma escolha de último minuto? E os marcadores das páginas- por que o leitor escolheu este pedaço de cartão em vez de um bilhete, ou uma folha de papel, ou outra coisa? Fez ele leu o livro? Que pensou dele?

As notas marginais, as dedicatórias, os marcadores das páginas, todos são tesourinhos deixados, de propósito ou por acaso, pelos leitores. Tais coisas revelam-nos pequenos detalhes da vida do leitor (o simplesmente dono) anterior do livro, e enriquecem a nossa experiência de leitura. É fácil lembrar que a leitura é uma conversação entre autor e leitor, mas a oportunidade de ouvir (ou, corretamente, ver) o bate-papo entre o autor e um leitor diferente é um único prazer. Por isso, prefiro comprar livros usados, e sempre deixar os meus próprios presentes para os futuros leitores.

Boa leitura, amigos!